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    Mulher trans brasileira relata desespero ao ser presa em ala masculina em Guantánamo

    Tarlis Gonçalves revelou ter sofrido diversos tipos de assédio e violência ao ser detida pelo governo de Donald Trump: "Experiência desumana'"

    Tarlis Marcone de Barros Gonçalves foi presa em cela masculina.Créditos: Reprodução
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    A cabeleireira Tarlis Marcone de Barros Gonçalves, de 28 anos, relatou seu desespero ao ser presa em uma ala masculina na prisão militar de Guantánamo, que pertence aos Estados Unidos, mas fica localizada em Cuba. Em depoimento à Justiça estadunidense, ela contou que, antes de ser transferida, foi alojada com 49 homens no Novo México e viveu uma "experiência desumana"

    A mulher foi detida no dia 15 de fevereiro após cruzar a fronteira dos EUA com o México, em El Paso, no Texas. Ela afirmou ter pedido asilo ao país de Donald Trump por ter sido ameaçada no Brasil. Tarlis prestou depoimento no dia 12 de março, o qual foi apresentada à corte federal em Washington como parte de um processo movido por 10 imigrantes detidos pelo ICE (Imigração e Alfândega dos EUA), que estavam tentando impedir a transferência para Guantánamo.

    Primeiro, Tarlis ficou detida por nove dias no Centro de Processamento do Condado de Otero, no Novo México, onde começou seu desespero. Ela ficou presa com 49 homens em uma cela, mesmo após ter avisado que era uma mulher trans e não se sentia confortável no local. A cabeleireira também afirmou que relatou casos de assédio aos agentes, mas não recebeu qualquer assistência. 

    “Em 15 de fevereiro de 2025, eu entrei nos Estados Unidos vindo do México, próximo a El Paso, Texas, onde fui apreendida por autoridades norte-americanas.Um agente de imigração perguntou se eu queria uma ordem de deportação, mas eu recusei, porque temo pela minha vida no Brasil”, relatou. 

    "Experiência desumana" em Guantánamo

    Após a prisão em Otero, Tarlis foi transferida para Guantánamo. Ela conta que foi algemada nos pés, quadris e pulsos e colocada em um ônibus e, em seguida, em um avião militar sem saber para onde estava sendo levada. 

    “Quando o avião pousou no dia seguinte, eles me disseram que nós estávamos em Guantánamo, Cuba. Eu não tinha nenhuma ideia do que estava acontecendo”. 

    Em Guantánamo, ela voltou a sentir o desespero de ser alojada em uma cela com homens. "Fui alojada em um quarto com cinco homens, como se eu fosse um homem. Disse aos guardas que não me sentia confortável ou segura sendo alojada com homens, mas eles não se importaram nem fizeram não", disse Tarlis.

    Ela também contou que não tinha nenhuma privacidade na cela, pois não havia separação de banheiros nem portas durante o banho, ficando a vistas de todos os homens da cela. "Toda vez que eu ia ao banheiro ou tomava banho, ficava à vista de todos - não havia nenhuma porta para me dar privacidade. Como mulher, foi uma experiência desumana", desabafou.  

    Além disso, Tarlis afirmou que era revistada por homens todas as vezes em que saía e voltava para a cela. Ela também acrescentou que recebeu apenas uma muda de roupa e não tinha o direito a alimentos, tendo ado fome. Os detentos recebiam apenas duas refeições ao dia, composta por salada, arroz, um pequeno pedaço de carne e uma fruta.

    No dia 2 de março, ela foi novamente transferida com algemas nos pés, punhos e quadris, dessa vez para detenção em Pine Prairie, na Louisiana, onde ficou alojada em uma solitária por 17 dias após diversos pedidos para não ser colocada em uma cela com homens. 

    Deportada ao Brasil 

    No começo de abril, Tarlis foi deportada ao Brasil e está com sua família em uma cidade de Minas Gerais. No depoimento em março, ela contou que tinha medo de ser morta caso fosse enviada ao seu país. "Tenho medo de ser morta se for enviada de volta ao Brasil. Gostaria de ter a chance de apresentar meu caso e de me reunir com a minha família nos Estados Unidos com segurança", disse, à época. 

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