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Nefertiti: quem foi a rainha esquecida do antigo Egito

Conheça a história da rainha mais bela e esquecida do Egito

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Historiadora e professora, formada pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Escreve sobre história, história politica e cultura.
Nefertiti: quem foi a rainha esquecida do antigo Egito
Famoso busto de Nefertiti. Domínio público

As figuras mais conhecidas do Egito Antigo, sem dúvida, são Cleópatra — a última rainha da dinastia ptolemaica — e Ramsés II, o faraó guerreiro e grande construtor. No entanto, poucos se lembram de outra figura fascinante e poderosa da história egípcia: a rainha Nefertiti, esposa do faraó Aquenaton.

Seu nome, que significa “a mais bela chegou”, reflete não apenas sua lendária beleza, mas também sua importância política e religiosa em um dos períodos mais controversos do Egito Antigo.

A origem de Nefertiti: nobre egípcia ou princesa estrangeira?

A origem de Nefertiti continua sendo um dos maiores enigmas da história egípcia. Embora tenha se tornado uma das rainhas mais famosas do Egito Antigo, muito pouco se sabe com certeza sobre sua família, nascimento ou ascensão ao trono.

A teoria mais aceita entre os egiptólogos é que Nefertiti era filha de Ay, um importante oficial da corte real que mais tarde se tornaria faraó, após a morte de Tutancâmon. Ay tinha uma posição influente durante o reinado de Amenófis III e, depois, sob Aquenaton, seu genro. Essa teoria é reforçada por inscrições e representações que o mostram em posição de destaque e com laços próximos à família real.

A mãe de Nefertiti, por outro lado, permanece desconhecida — o que reforça o mistério sobre sua origem materna. Alguns estudiosos sugerem que ela poderia ter sido uma nobre de origem modesta ou mesmo uma concubina do palácio, o que dificultaria o rastreamento histórico.

Outra teoria, menos aceita, mas ainda debatida, é que Nefertiti poderia ter sido uma princesa mitaniana (do reino de Mitani, na região da atual Síria), enviada ao Egito como parte de uma aliança diplomática. Essa hipótese se baseia na semelhança entre Nefertiti e Tadukhipa, uma princesa mitaniana que teria sido prometida ao faraó Amenófis III e que poderia, eventualmente, ter se casado com seu filho, Amenófis IV (futuro Aquenaton).

No entanto, essa identificação é contestada, pois não há provas arqueológicas claras que liguem as duas figuras.

Uma rainha de muitos mistérios

Independentemente de sua origem exata, é evidente que Nefertiti teve uma educação refinada, formação política e profunda influência religiosa. Ela surge nos registros já como grande esposa real, o título mais alto concedido às rainhas do Egito, e parece ter assumido esse papel ainda muito jovem — talvez com apenas 15 anos.

O nome “Nefertiti”, que significa “a bela chegou”, pode ser tanto uma descrição literal de sua aparência quanto uma referência à sua chegada à corte ou ao poder. Sua beleza foi eternizada em seu busto, mas sua importância vai muito além da estética: ela desempenhou um papel central na maior revolução religiosa do Antigo Egito.

Nefertiti viveu por volta do século XIV a.C., durante a 18ª dinastia, e foi casada com o faraó Amenófis IV, que mais tarde adotaria o nome Aquenaton. Juntos, iniciaram uma das transformações mais radicais da história egípcia: o abandono do politeísmo tradicional em favor da adoração exclusiva de Aton, o disco solar.

Essa mudança marcou o que muitos estudiosos consideram a primeira tentativa de monoteísmo registrada na história da humanidade. O casal real transferiu a capital do Egito para uma nova cidade, Aquetaton (atualmente conhecida como Amarna), e deu início ao que chamamos hoje de período amarniano.

Nefertiti e seu marido o Faraó Aquenaton
(foto: domínio público)

Muito mais do que uma consorte

Ao contrário de muitas rainhas egípcias, Nefertiti não foi uma figura decorativa. Ela aparecia frequentemente ao lado do marido em cenas de culto religioso, cerimônias oficiais e até em imagens de vitória militar — algo extremamente raro para mulheres da época.

Alguns egiptólogos acreditam que, após a morte de Aquenaton, Nefertiti pode ter governado como faraó sob o nome de Neferneferuaton, antes da ascensão de Tutancâmon (possivelmente seu enteado). Outros estudiosos sugerem que ela desapareceu misteriosamente da história ainda durante o reinado do marido — o que mantém parte de sua trajetória envolta em mistério.

Beleza eterna e redescoberta moderna

A fama moderna de Nefertiti deve muito ao icônico busto de calcário pintado encontrado em 1912, em Tel el-Amarna, hoje exposto no Museu Neues, em Berlim. A escultura, com mais de 3.300 anos, tornou-se um símbolo da arte egípcia e da beleza feminina — e também reacendeu o interesse mundial por sua história.

O busto é tão detalhado e simétrico que muitos duvidaram, por décadas, de sua autenticidade — mas estudos confirmaram que ele realmente data do período de Nefertiti.

Um legado que ressurge

Apesar de ter sido, por muito tempo, eclipsada por outras figuras históricas, Nefertiti está entre as mulheres mais poderosas e influentes do Egito Antigo. Sua participação em uma revolução religiosa, sua possível co-regência e o fascínio que ainda inspira fazem dela uma personagem digna de ser lembrada.

A história de Nefertiti é a prova de que, mesmo em tempos e culturas dominados por homens, as mulheres podiam exercer liderança, influência e deixar marcas profundas na história da humanidade.

 

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