• As ilhas flutuantes no lago mais alto do mundo escondem uma população milenar

    Na fronteira entre Peru e Bolívia, um lago ancestral corre pelos altiplanos andinos mais de três mil metros acima do nível do mar, e abriga uma população de origem milenar, com uma forma de vida singular

    Os Uros às margens do Titicaca.Créditos: Wikimedia commons
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    Na fronteira entre Peru e Bolívia, um lago ancestral corre pelos altiplanos andinos a 3.821 metros acima do nível do mar. O Lago Titicaca, com 8.372 km², é o maior da América do Sul em volume de água, e o lago navegável mais alto do mundo.

    Foi sobre a superfície do Titicaca que se construiu um dos modos de vida mais singulares do planeta: as ilhas flutuantes dos Uros.

    Elas são ilhas artificiais, localizadas no lado peruano do lago, próximo à cidade de Puno. Formadas por junco de totora (uma planta aquática endêmica na região), tornaram-se, no começo do século 21, uma das maiores atrações turísticas do país; mas sua origem está ligada à resistência e à adaptação de um povo de história milenar.

    Os Uros

    Os Uros são um grupo étnico indígena pré-colombiano, com raízes que remontam a mais de 3 mil anos, conforme relatam registros arqueológicos e relatos orais. Eles falavam, originalmente, a língua uruquilla, hoje considerada extinta, e, segundo segundo conta a tradição oral, já habitavam a região do altiplano andino muito antes do surgimento do Império Inca.

    Comunidade dos Uros em Titicaca.
    Créditos: Wikimedia Commons

    Com a chegada dos incas e, mais tarde, dos colonizadores espanhóis, recorreram às águas do Lago Titicaca e à sua vegetação como refúgio. Lá, utilizando a totora, aram a construir estruturas de balsas para viver sobre a água.

    Com o tempo, essas balsas evoluíram para plataformas habitáveis — que hoje são chamadas de "ilhas flutuantes" — e podiam ser movidas, ampliadas ou reconstruídas. Estima-se que, em sua origem, os Uros tenham construído mais de 100 dessas ilhas, embora hoje existam cerca de 80 ilhas flutuantes habitadas (ou mantidas para fins culturais e turísticos).

    Ilhas flutuantes do Titicaca.
    Créditos: Wikimedia commons

    Como são feitas as ilhas flutuantes?

    As ilhas são construídas com várias camadas de totora, que são cortadas, secas e sobrepostas como colchões. A base flutuante das balsas é feita com blocos de raízes da totora, chamados khili, que são amarrados entre si com cordas de nylon (uma introdução mais recente) ou, historicamente, com eucalipto. Por cima, são adicionadas novas camadas do junco seco para formar o solo da ilha, que então precisa ser renovado constantemente.

    Cada ilha abriga entre 3 e 10 famílias, dependendo do tamanho, e há inclusive escolas e pequenas áreas comunitárias entre elas. A totora também é utilizada para construir casas, móveis, barcos e esculturas simbólicas.

    Acredita-se que o lago mais alto do mundo tenha sido, também, o berço de uma das mais importantes civilizações da América do Sul: segundo a mitologia inca, foi das águas do Titicaca que emergiram Manco Cápac e Mama Ocllo, filhos do deus Sol, fundadores de Cusco e da civilização que se tornariam os Incas.

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