Análise

Comediantes precisam de um sindicato forte para reforçar a profissão – Por Tadeu Porto

Sindicato forte seria capaz de definir limites éticos, com base no consenso da categoria, e proteger os profissionais contra perseguições judiciais ou censura arbitrária

Escrito en Opinião el
Diretor da Federação Única dos Petroleiros e do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense, escreve no blog Sindicato Popular, na Revista Fórum.
Comediantes precisam de um sindicato forte para reforçar a profissão – Por Tadeu Porto
Léo Lins. Reprodução de Vídeo/Instagram do comediante

A recente condenação do comediante Léo Lins reacendeu o debate sobre os limites do humor na sociedade. É evidente que todo cidadão, especialmente um trabalhador, precisa de liberdade para exercer seu ofício. No entanto, também é claro que as normas sociais devem ser respeitadas. Seria inconcebível, por exemplo, defender que ofender outros seres humanos com palavras seja considerado liberdade irrestrita, sem consequências futuras.

Contudo, esse equilíbrio entre a identidade do comediante e as regras sociais que o afetam não é fácil de alcançar. Se as regras forem injustas, caímos na censura; mas, se a identidade ignorar as regras, ficamos à mercê da individualidade, como se não houvesse uma dimensão comum de convivência.

Esse tema, porém, não é novo. Hoje, tornou-se ainda mais complexo devido à relação entre a produção de conteúdo e sua viralização nas redes sociais – onde as informações se espalham com velocidade impressionante, gerando reações imediatas e, muitas vezes, superficiais, sem abordar a raiz do problema.

Humor como profissão

O humorismo consolidou-se como uma carreira legítima. Com a popularização das tecnologias de gravação e transmissão, cada vez mais pessoas ingressam nessa atividade como forma de sustento. No entanto, uma profissão com tamanho impacto social exige uma ética robusta para garantir segurança e previsibilidade aos trabalhadores. 

E quem melhor para definir esses parâmetros do que os próprios comediantes? 

A necessidade de organização coletiva

Assim como em outras categorias, a união dos profissionais é essencial para estabelecer diretrizes que preservem os valores da profissão e se adaptem às mudanças do tempo. Historicamente, a classe trabalhadora conquistou direitos por meio de associações, ligas e, posteriormente, sindicatos – entidades reconhecidas por lei e pela sociedade. 

No Brasil, pelo o que pude pesquisar, existem sindicatos que representam a categoria dos humoristas. É necessário fortalecê-los para que estejam à altura dos desafios dessa organização.  

Desunião atual e seus impactos

Atualmente, percebe-se uma falta de organização sólida entre os comediantes. Quando há alguma mobilização de massa, ela geralmente se limita a discussões isoladas nas redes sociais, onde cada profissional expõe sua opinião de maneira individual. 

Essa fragmentação dificulta a criação de políticas consistentes para a categoria. Sem união, não há planejamento coletivo, muito menos ações concretas para enfrentar os desafios da profissão. 

A solução: fortalecimento sindical

Apenas uma organização bem estruturada pode transformar as dificuldades do humorismo em conquistas reais. Um sindicato forte seria capaz não apenas de definir limites éticos com base no consenso da categoria – e não em pressões externas –, mas também de proteger os profissionais contra perseguições judiciais ou censura arbitrária.

Além disso, um sindicato pode lutar permanentemente por melhores condições de trabalho, incluindo: remuneração justa; cuidados com a saúde e segurança dos humoristas; direitos autorais e respeito a contratos e acordos. 

Se os comediantes desejam ter voz ativa na definição do futuro da profissão, a união sindical não é apenas uma opção – é uma necessidade urgente.

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.

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