Em um discurso que ecoou os sentimentos de grande parte da militância petista, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, rompeu com a cautela política e deu voz ao que muitos no Partido dos Trabalhadores (PT) queriam dizer publicamente. Durante o lançamento da candidatura de Edinho Silva à presidência da legenda, nesta segunda-feira (20/5), Haddad afirmou com todas as letras que o PT irá “dar trabalho para essa extrema direita escrota” e garantiu: “Vamos ver o presidente Lula subir mais uma vez a rampa do Planalto”.
A fala de Haddad, ao mesmo tempo incisiva e simbólica, serviu como uma catarse coletiva em um momento de reorganização interna do partido. O ministro, que costuma adotar um tom técnico em sua atuação à frente da Fazenda, foi ovacionado ao assumir uma postura mais política e emocional. Com seu discurso, ele externou o que muitos dirigentes e militantes petistas vinham expressando nos bastidores — a necessidade de marcar posição firme contra o bolsonarismo e seus desdobramentos.
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“Vejo que está todo mundo com a cara mais contente hoje”, afirmou Haddad, referindo-se ao clima de unidade que marcou o evento. A candidatura de Edinho, nome ligado ao presidente Lula e à corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), só foi possível após uma operação de bastidores que evitou um racha dentro da principal tendência interna do PT.
Crise evitada na base governista
A CNB esteve à beira da divisão nos últimos dias. O prefeito de Maricá (RJ), Washington Quaquá, chegou a articular uma candidatura paralela, ameaçando fragmentar a base majoritária do partido. O Palácio do Planalto, ciente do desgaste que uma disputa interna poderia causar, mobilizou lideranças para evitar a crise.
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Ministros como Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, e o próprio Haddad atuaram diretamente para pacificar os ânimos. A retirada da candidatura de Quaquá foi fundamental para consolidar o nome de Edinho Silva, atual prefeito de Araraquara (SP) e figura de confiança de Lula.
“O Lula estava preocupado. Se a CNB rachasse, rachava também o PT”, resumiu o líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE). Para ele, a vitória de Edinho, agora, é questão de tempo: “Acho que a eleição será no primeiro turno”.
Unidade e enfrentamento
Ao dar voz ao incômodo de muitos com a atuação da extrema direita nos últimos anos, Haddad não apenas reforçou a linha política que o PT pretende adotar em 2026, como também sinalizou que a sigla não pretende recuar diante do embate ideológico que se avizinha.
Com a campanha interna sob controle e o discurso afinado, o partido agora mira a próxima eleição presidencial com a confiança de que a unidade será um ativo central. E, se depender do tom adotado por Haddad, a postura será clara: sem meias-palavras.