• FOI POR POUCO

    ‘Kids pretos’ no STF: Relembre por que Moraes acabou não sendo morto

    Plano criminoso esteve em vias de ser concluído, mas algo fez os militares bolsonaristas traidores do Brasil recuarem em cima da hora

    O ministro Alexandre de Moraes, do STF.Créditos: Sérgio Lima/AFP
    Escrito en POLÍTICA el

    Nesta terça-feira (20), o Supremo Tribunal Federal (STF) realiza o julgamento de issibilidade da denúncia contra o chamado “núcleo 3” da tentativa de golpe de Estado de 2022/2023. O grupo é composto por militares de elite das Forças Especiais do Exército, os chamados “kids pretos”, que estavam diretamente envolvidos no plano de execução do ministro Alexandre de Moraes, no envenenamento do presidente Lula e no sequestro do vice-presidente Geraldo Alckmin.

    A conspiração, segundo apurou a Polícia Federal, estava prestes a ser colocada em prática. Moraes já era monitorado, as armas e explosivos estavam disponíveis e havia movimentações para a ação final. Mas, em cima da hora, algo fez com que os golpistas recuassem e abortassem o plano.

    A estrutura do plano: espionagem, codinomes e articulações militares

    O grupo operava por meio de um canal no aplicativo Signal chamado “Copa 2022”, criado para monitorar os os de Moraes. Os militares envolvidos usavam codinomes de países, como “Alemanha”, “Áustria”, “Japão” e “Gana”, em alusão aos participantes do torneio de futebol, e trocavam mensagens com detalhes da conspiração.

    Entre os alvos do julgamento desta terça estão o tenente-coronel Rodrigo Bezerra de Azevedo e o tenente-coronel Rafael Martins de Oliveira. Eles foram presos em novembro de 2024, durante a deflagração da Operação Contragolpe, ao lado de outros três acusados: o general Mário Fernandes, o tenente-coronel Hélio Ferreira Lima e o policial federal Wladimir Matos Soares.

    A Procuradoria-Geral da República denunciou ao todo 34 pessoas, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus colaboradores mais próximos, que constam no chamado "núcleo crucial". As acusações abrangem tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado e conspiração para homicídio.

    Por que o plano fracassou? A hesitação decisiva e o recuo de Bolsonaro

    Apesar de toda a preparação logística e da expectativa gerada entre os conspiradores, o plano foi interrompido em seu estágio final. De acordo com relatório da Polícia Federal, o motivo foi a ausência de apoio formal do Exército ao golpe. O general Freire Gomes, então comandante da Força, se recusou a aderir à ruptura institucional, frustrando os golpistas.

    “Apesar de todas as pressões realizadas, o general Freire Gomes e a maioria do alto comando do Exército mantiveram a posição institucional, não aderindo ao golpe de Estado. Tal fato não gerou confiança suficiente para o grupo criminoso avançar na consumação do ato final e, por isso, o então presidente da República Jair Bolsonaro, apesar de estar com o decreto pronto, não o assinou”, afirma o relatório da PF.

    Na manhã de 7 de dezembro de 2022, Bolsonaro chegou a convocar os chefes militares ao Palácio da Alvorada para apresentar a minuta do golpe, pressionando por apoio. Almir Garnier, comandante da Marinha, e Paulo Sérgio Nogueira, ministro da Defesa, estavam dispostos a seguir adiante, mas Freire Gomes, chefe do Exército, e Baptista Júnior, da Aeronáutica, se mantiveram contra a ruptura. Sem essa base, Bolsonaro vacilou e não teve coragem de o decreto, o que selou o fim do plano de assassinato no último momento.

    As mensagens interceptadas e o momento de tensão no Alvorada

    No dia 15 de dezembro, véspera da ação planejada, o general Mário Fernandes chegou a enviar mensagem ao então secretário-geral da Presidência, general Luiz Eduardo Ramos, indicando que Freire Gomes teria finalmente cedido, após vir negando adesão havia mais de uma semana:

    “Kid preto, algumas fontes sinalizaram que o comandante da Força sinalizaria hoje, foi ao Alvorada para sinalizar ao presidente que ele podia dar ordem”, disse.

    Apesar da presença de Freire Gomes no Alvorada, a adesão institucional não se concretizou. O silêncio do Exército esfriou os ânimos dos golpistas e desmontou o esquema todo. Sem respaldo militar, o plano de assassinato e sequestro foi abortado de forma definitiva, mas as provas levantadas pela PF levaram o caso ao Supremo, onde agora os envolvidos enfrentam a Justiça.

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