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    Fazendeiro que contratou grupo "caça-comunistas" para matar advogado é bolsonarista radical

    Aníbal Manoel Laurindo, apontado como o mandante do assassinato de Roberto Zampieri, conheceu o financiador do crime, o coronel Luiz Cacadini, em um grupo de "patriotas" golpistas

    Aníbal Manoel Laurindo, que contratou grupo de extermínio para matar advogado, é bolsonarista radical.Créditos: Reprodução/Divulgação/PF
    Escrito en POLÍTICA el

    Um dos alvos da operação deflagrada nesta quarta-feira (28) pela Polícia Federal (PF), que desmontou uma quadrilha especializada em assassinatos por encomenda, é o fazendeiro Aníbal Manoel Laurindo – um bolsonarista radical, preso em março de 2024 e solto na sequência, apontado como mandante do assassinato do advogado Roberto Zampieri, executado com dez tiros em Cuiabá (MT), em dezembro de 2023. 

    Aníbal foi agora preso novamente pela PF no âmbito da 7ª fase da Operação Sisamnes, que revelou a existência do “Comando C4” — sigla para Comando de Caça a Comunistas, Corruptos e Criminosos – uma espécie de agência clandestina de extermínio com participação de civis e militares, inclusive da ativa. O grupo cobrava até R$ 250 mil por execução, segundo documentos obtidos pelos investigadores, e tinha tabela de preços para executar até mesmo ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). 

    Ligação com atos golpistas bolsonaristas

    Embora a PF não tenha apontado motivações políticas nos mandados desta quarta-feira, Aníbal é conhecido por seu engajamento extremista em grupos bolsonaristas. Segundo a investigação da Polícia Civil de Mato Grosso, ele integrava a “Frente Ampla Patriota”, grupo que acampava em frente a quartéis do Exército após a vitória de Lula em 2022, exigindo um golpe militar para manter Jair Bolsonaro no poder.

    Foi nesse ambiente que Aníbal conheceu o coronel da reserva Etevaldo Luiz Caçadini, também alvo da operação da PF desta quarta e apontado como o financiador do assassinato de Zampieri. Aníbal teria contratado o grupo de extermínio “Comando C4” para matar o advogado, enquanto Caçadini teria financiado o crime. 

    “O coronel representa a frente ampla partidária. Pelo que a investigação demonstra, acabou criando uma proximidade entre o coronel e o Aníbal. Eles iam pra frente de quartéis pedindo uma ação mais enérgica do Exército em prol do conservadorismo”, explicou em 2024 o delegado Nilson Farias, responsável pelas investigações da Polícia Civil do Mato Grosso. 

    Plano envolvia espionagem, armas e disfarces

    De acordo com a PF, o assassinato do advogado revelou a estrutura de um esquema maior, que incluía espionagem, armas pesadas, disfarces e possível venda de sentenças judiciais. “Estamos diante de uma estrutura altamente profissionalizada de eliminação de desafetos, com motivação política, econômica e ideológica. O caso é gravíssimo”, afirmou um agente da PF sob condição de anonimato.

    Grupo "caça-comunistas"; entenda

    A Polícia Federal (PF) deflagrou nesta quarta-feira (28) a 7ª fase da Operação Sisamnes e desmontou uma organização criminosa formada por civis e militares — da ativa e da reserva — especializada em espionagem e assassinatos sob encomenda. O grupo, que operava como uma verdadeira agência de extermínio, chegou a estipular valores fixos para a eliminação de autoridades, incluindo ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), senadores e deputados.

    Apelidada pelos próprios integrantes de “Comando C4” — sigla para Comando de Caça a Comunistas, Corruptos e Criminosos — a quadrilha cobrava até R$ 250 mil por uma execução. Conforme documentos apreendidos pela PF, a tabela de preços incluía: R$ 250 mil para matar ministros do STF, R$ 150 mil para senadores, R$ 100 mil para deputados e R$ 50 mil para “figuras normais”. Além disso, o planejamento incluía aluguel de imóveis, uso de disfarces como perucas e bigodes falsos, além de iscas sexuais e drones para vigilância.

    A investigação teve início após o assassinato do advogado Roberto Zampieri, executado com dez tiros em dezembro de 2023, em Cuiabá (MT), na porta de seu escritório. A PF descobriu que o crime estava ligado a uma disputa judicial envolvendo terras avaliadas em mais de R$ 100 milhões, da qual Zampieri era peça-chave. O homicídio revelou conexões com um esquema mais amplo, incluindo indícios de venda de sentenças judiciais no Tribunal de Justiça de Mato Grosso e no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

    A ação policial foi autorizada pelo ministro Cristiano Zanin, do STF. Foram cumpridos cinco mandados de prisão preventiva e seis de busca e apreensão em Mato Grosso, Minas Gerais e São Paulo. Quatro suspeitos também foram submetidos a monitoramento eletrônico, além de medidas cautelares como recolhimento domiciliar noturno, proibição de contato entre investigados e entrega de aportes.

    Entre os presos estão:

    • Aníbal Manoel Laurindo, produtor rural e apontado como mandante do assassinato de Zampieri;
    • Coronel Luiz Cacadini, suposto financiador da operação criminosa;
    • Antônio Gomes da Silva, identificado como o atirador;
    • Hedilerson Barbosa, considerado auxiliar do atirador e dono da arma usada no crime;
    • Gilberto Louzada da Silva, também envolvido na trama.

    O arsenal planejado pelo grupo incluía cinco fuzis com silenciador, 15 pistolas com silenciador, lança-rojão de ombro, minas magnéticas, explosivos com detonação remota, placas frias e até veículos para fuga, como Doblòs e carros médios. Parte dessas armas foi apreendida pela PF em Minas Gerais.

    Segundo a corporação, o avanço das investigações pode revelar novos alvos de espionagem e possíveis mandantes de crimes semelhantes. Ainda não se sabe se figuras públicas efetivamente chegaram a ser monitoradas, mas os detalhes do plano indicam um nível de sofisticação e organização incomuns, com estrutura similar à de grupos paramilitares.

    “Estamos diante de uma estrutura altamente profissionalizada de eliminação de desafetos, com motivação política, econômica e ideológica. O caso é gravíssimo”, afirmou um agente da PF sob condição de anonimato.

    Assassinato sob medida

    O caso Zampieri escancarou o funcionamento da quadrilha: o advogado foi surpreendido por um atirador de boné, que disparou dez vezes por uma das janelas do carro. A vítima, que já usava veículo blindado havia anos, foi atingida na saída do escritório, e o assassino fugiu imediatamente.

    A Polícia Civil de Mato Grosso já havia indiciado os envolvidos, e a PF agora corrobora as conclusões, ampliando a investigação para outros estados e esferas do poder. As autoridades não descartam novos desdobramentos e mais prisões nos próximos dias.

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