Humilhando e atuando como vice decorativo no ex-governo, o senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) confessou que foi procurado e obedeceu ordens de Jair Bolsonaro (PL) no depoimento como testemunha no julgamento da ação da organização criminosa golpista comandada pelo ex-presidente, que tramita na primeira turma do Supre3mo Tribunal Federal (STF).
O general confessou ao jornalista Igor Gadelha, do portal Metrópoles, que Bolsonaro ligou para ele antes do depoimento e pediu para que reforçasse que nunca teria ouvido qualquer menção sobre ruptura institucional, além de outros pontos "importantes para a defesa" do ex-presidente.
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Indiciado como testemunha de Bolsonaro, Augusto Heleno, Paulo Sergio Nogueira e Walter Souza Braga Netto, Mourão ainda teria mentido no depoimento ao Supremo Tribunal negando que foi "monitorado por militares acusados de envolvimento em uma trama golpista para manter Bolsonaro no poder".
Em sua delação, o tenente-coronel Mauro Cid afirmou que Bolsonaro mandou monitorar um encontro de Mourão com Alexandre de Moraes.
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Monitoramento
No depoimento a Moraes, Cid contou sobre a articulação que fez entre os "kids pretos" com o general Walter Braga Netto, que resultou na arquitetura do plano Punhal Verde e Amarelo, que tinha como objetivo ass o ministro, Lula e Geraldo Alckmin (PSB).
Cid comentou que a facção homicida comandada por Braga Netto começou o monitoramento de Moraes. No entanto, partiu do próprio Bolsonaro uma solicitação para vigiar um suposto encontro que ocorreria em São Paulo.
"A informação era que seria, porque o Senhor iria se encontrar ou com o general Mourão ou alguém do governo dele. E o presidente estava meio nervoso com isso aí. Então ele queria saber. Essa foi a informação que eu recebi. E novamente eu usei o coronel Câmara, eu pedi ao coronel Câmara pra tentar colher essa informação", disse, referindo-se ao tenente-coronel Marcelo Câmara, destacado para monitorar o ex-ministro.
Segundo Cid, Bolsonaro desconfiava que o encontro ocorreria entre 12 e 19 de dezembro de 2022.
Moraes volta ao assunto e chega a ironizar o serviço de "inteligência" de Bolsonaro para monitorar o suposto encontro que teria com Hamilton Mourão.
"Coronel, o senhor já tinha dito no depoimento anterior - e hoje disse novamente - que o pedido do presidente Bolsonaro para me monitorar foi porque ele achou que eu pudesse me encontrar com o vice-presidente general Mourão. Agora, na agenda do general Mourão, do dia 15 até dia 30, ele não estava em São Paulo. Não era mais fácil consultar a agenda dele?", indaga Moraes, com certa ironia.
Cid, então, explica que Bolsonaro recebia uma avalanche de fake news e, como estava "irritado", mandava verificar tudo.
"Ministro, mas eu creio que foi consultado, eu creio que foi consultado também, porque o que acontecia lá, até para explicar a dinâmica como acontece isso, até para o Senhor entender, o presidente recebia muita informação informes, muitos informes pelo celular dele. E pelo perfil dele, já ficava nervoso, irritado e mandava verificar. Então, mas seria. Mas, se era para assim, eu não posso garantir para o senhor, mas foi isso que eu cotejei ali com o coronel Câmara outra finalidade, eu realmente não consigo garantir pro Senhor", respondeu.
Em seguida, Cid diz que a agenda poderia ter sido com o então governador eleito, Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), mas que não poderia confirmar, pois Bolsonaro "aloprava" ao receber as informações pelo celular.
"A informação do que gente foi buscar foi ou pro general Mourão ou para outra autoridade ou ministro dele, talvez o Tarcísio, eu não sei. Porque, muitas vezes, ministro, chegava informação de pessoas que diziam - e aconteceu, né? - 'recebemos informação que o Ministro Alexandre de Moraes está reunido com o Tarcísio num prédio em São Paulo', né; que, na época do Rodrigo Maia, 'o deputado Rodrigo Maia está não sei aonde reunido com o Paulo Guedes, está reunido com o Moro'. Então, essas informações chegavam pelo celular do presidente. E, às vezes, ele já aloprava; às vezes, ele ligava para o ministro; às vezes, ele mandava a gente verificar se realmente acontecia", contou Cid.
Obstrução da Justiça
A declaração de Mourão, de que obedeceu ordens de Bolsonaro para direcionar o depoimento ao STF, complica ainda mais a situação do ex-presidente, que pode ser interpretado como tentativa de obstrução da justiça.
Advogado de Bolsonaro, Celso Vilardi contradisse o general à jornalista Bela Megale, do jornal O Globo. Na versão contada, Vilardi diz que o ex-presidente ligou para Mourão para pedir que ele comparecesse ao depoimento - mesmo com o militar recebendo intimação pelo próprio STF.
"O presidente Bolsonaro fala regulamente com o general Mourão e avisou para ele que seria testemunha. O presidente pediu para o senador se disponibilizar no dia, nada mais do que isso. Foi exclusivamente para dar data e hora do depoimento e pedir para Mourão comparecer, independentemente de intimação, nada mais do que isso", disse o advogado, que afirmou ainda que não sabe quem foi o autor da ligação porque “Mourão e Bolsonaro se falam frequentemente”.