O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) acatou o pedido do Procurador-Geral da República (PGR), Paulo Gonet, e determinou nesta quarta-feira (4) a prisão da deputada bolsonarista Carla Zambelli (PL-SP), que fugiu do país após ser condenada a 10 anos de prisão e perda do mandato pela invasão do sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O STF também formou maioria para impor mais 5 anos e 3 meses de cadeia à deputada por perseguição armada, mas ela deixou o país em meio ao pedido de vistas do ministro Kássio Nunes Marques.
"No caso de Carla Zambelli Salgado de Oliveira é inequívoca a natureza da alegada viagem à Europa, com o objetivo de se furtar à aplicação da lei penal, em razão da proximidade do julgamento dos embargos de declaração opostos contra o acórdão condenatório proferido nestes autos e a iminente decretação da perda do mandato parlamentar", escreveu Moraes.
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O ministro ainda ressaltou o "intuito criminoso" da bolsonarista, que segue com provocações e crimes ao transferir as redes sociais para a mãe, Rita, para seguir incitando extremistas.
"Lamentavelmente, o intuito criminoso de Carla Zambelli permanece ativo e reiterado, insistindo a condenada — mesmo que de modo atabalhoado e confuso — na divulgação de notícias fraudulentas, no ataque à lisura das eleições e nas agressões ao Poder Judiciário", diz o ministro na decisão.
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Moraes também determinou o bloqueio de bens, ativos e contas bancárias no nome dela, rees da Câmara a todo o gabinete dela e redes sociais. O ministro também pediu a inclusão do nome da bolsonarista no sistema de difusão vermelha da Interpol.
Prisão em flagrante?
Carla Zambelli está em Fort Lauderdale, no estado da Flórida, nos EUA. Ou ao menos estava nesta terça-feira (3), quando gravou um vídeo em suas redes sociais.
O local preciso foi descoberto por João Paschoal, o Geopasch, um youtuber focado no jogo Geoguessr. O jogo tem como objetivo encontrar com precisão coordenadas geográficas a partir de dicas visuais: idiomas, estilos arquitetônicos, clima, vegetação, etc.
Através do prédio que aparece em vídeo de Zambelli publicado na própria rede social da deputada federal, João conseguiu identificar a localização exata da parlamentar.
E ainda zombou: "Coordenadas para a polícia prender ela em flagrante".
De acordo com Zambelli, ela está rumo à Europa, precisamente à Itália, país do qual tem cidadania. Ela quer repetir os os de Eduardo Bolsonaro (PL) e agir como lobbyista da extrema direita brasileira junto às forças europeias.
Briga por Pix
O silêncio do clã Bolsonaro diante da fuga da fiel escudeira, Carla Zambelli (PL-SP), condenada a 10 anos de prisão pela invasão do sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), tem um motivo que vai além da mágoa de Jair Bolsonaro (PL), que culpa a aliada pela derrota eleitoral em 2022.
Nesta terça-feira (3), ao anunciar a fuga, a deputada tentou se reaproximar do clã dizendo que vai "ombrear" com Eduardo Bolsonaro (PL-SP), disseminando a narrativa de "perseguição" na Europa. O filho "03" de Bolsonaro, que fugiu para os EUA, ignorou o aceno da aliada e, assim como os irmãos e a madrasta, Michelle Bolsonaro, silenciou sobre a estratégia da parlamentar.
O
principal motivo do silêncio do clã diz respeito à briga aberta com Carla Zambelli na máquina milionária de explorar aliados com campanhas via Pix.
A deputada teria se irritado por Bolsonaro lançar uma nova campanha para arrecadar dinheiro dos seguidores dias antes da ação anunciada por ela, com vistas a financiar a fuga do país. Em 2023, Bolsonaro já havia arrecadado R$ 17 milhões em doações dos extremistas.
A aliados, Carla Zambelli teria reclamado que tem dívidas que beiram R$ 3 milhões e que a campanha "mesquinha" de Bolsonaro iria esvaziar as doações a ela.
A campanha da deputada foi lançada em 19 de maio, quando já planejava a fuga do país.
"Aquela vaquinha que lancei ontem já deu R$ 285 mil até à noite e hoje tinha mais R$ 10 mil que entrou, então tem R$ 295 mil até agora. Mas, são R$ 3,5 milhões de multa. Para pedir prisão domiciliar, indulto - vamos supor que a gente eleja um presidente no ano que vem e em 2027 pedir indulto -, eu poderia fazer isso, mas teria que pagar multa. Então, estou me preparando para pedir prisão domiciliar, indulto em 2027, mas para isso preciso pagar uma multa que não tenho a mínimo condição de pagar", disse ela, em entrevista um dia depois.
Nas redes, a deputada usou o filho, o "consultor político" João Zambelli, e a mãe, Rita, para apelas por mais doações.
"Como vocês sabem, minha filha está sendo duramente perseguida e enfrentando multas altíssimas, milionárias e totalmente desproporcionais. Peço, por favor, que, se acreditam na luta dela ao longo desses 14 anos, a ajudem com o que puderem", diz o texto credito à mãe, que estaria sendo usada nas redes de Zambelli para evitar bloqueios.
Antes da fuga, a deputada, que teve o mandato cassado, também lançou a mãe e o filho como pré-candidatos nas eleições de 2026 e 2028.
"Tomei a decisão de transferir oficialmente a titularidade das minhas redes sociais, como herança, para minha mãe, Rita Zambelli, uma mulher íntegra, de princípios sólidos, que carrega os mesmos valores que sempre defendi. Ela, inclusive, é a minha pré-candidata a deputada federal no próximo ano, justamente para dar continuidade a essa luta que é de toda a nossa família e de milhões de brasileiros que se recusam a se curvar diante do autoritarismo", anunciou.
"Da mesma forma, meu filho, João Zambelli, também dará seguimento a esse legado, em 2028, como pré-candidato à vereança de São Paulo, assegurando que minha luta não seja esquecida, caso, de fato, eu venha a ser calada pelo sistema", emendou.