Um tributo a Maria Paula Dallari Bucci – Por Ana Beatriz Prudente Alckmin

Falar de políticas públicas no Brasil sem mencionar Maria Paula Dallari Bucci é deixar de reconhecer uma das mentes mais comprometidas com o fortalecimento do Estado democrático e da atuação pública de qualidade. Professora da Faculdade de Direito da USP, Maria Paula é uma jurista que alia profundidade teórica com vivência concreta no serviço público — e essa combinação é o que faz dela uma referência inspiradora para qualquer pessoa que deseje trabalhar com políticas públicas no Brasil.

Formada mestre, doutora e livre-docente pela USP, sua trajetória acadêmica é marcada por coerência, solidez e, acima de tudo, um desejo claro de impactar a sociedade para além dos muros da universidade. Seus livros, como "Fundamentos para uma Teoria Jurídica das Políticas Públicas", premiado com o Jabuti, não são apenas obras de referência: são convites a pensar o Direito como ferramenta de transformação.

Mas Maria Paula não ficou só na teoria. Atuou no coração do serviço público brasileiro, como procuradora do CADE, consultora jurídica do Ministério da Educação e secretária de Educação Superior. Esteve presente na implementação de políticas que mudaram a história da educação pública no país, como o programa Reuni e a defesa das ações afirmativas no ensino superior. Fez isso com coragem, competência e compromisso com a justiça social.

Na USP, além de formar gerações de estudantes, coordena grupos de pesquisa e estimula o pensamento crítico sobre o papel do Estado. Também se destaca como uma das principais vozes no debate público em defesa da democracia — e foi exatamente por isso que esteve entre as intelectuais que leram a “Carta às Brasileiras e aos Brasileiros” em 2022, no histórico ato na Faculdade de Direito do Largo São Francisco.

Filha do jurista Dalmo Dallari, irmã do professor Pedro Dallari, casada com o jornalista Eugênio Bucci, Maria Paula poderia ter se acomodado na segurança de um sobrenome forte. Mas escolheu trilhar seu próprio caminho, com ética, inteligência e paixão pelo bem público.

Hoje, sua atuação é um farol para estudantes, servidores, pesquisadoras e gestores públicos que buscam unir teoria e prática, sonho e responsabilidade. Homenagear Maria Paula Dallari Bucci é reconhecer o valor do serviço público comprometido, técnico e sensível às demandas reais da sociedade. É reconhecer que o Brasil precisa — e tem — grandes mulheres à frente de sua construção democrática.

Desafios das mulheres nas políticas públicas: a importância de referências como Maria Paula Dallari Bucci

A presença de mulheres em cargos de liderança nas políticas públicas ainda enfrenta obstáculos significativos no Brasil. Dados do Censo das Secretarias Brasileiras revelam que apenas 28% das gestoras em secretarias estaduais e municipais são mulheres, e 43% delas já sofreram algum tipo de violência de gênero no exercício de suas funções, sendo a violência psicológica a mais comum.

Além disso, a violência política de gênero é uma realidade preocupante. Segundo pesquisa do Observatório Nacional da Mulher na Política, uma em cada quatro denúncias de violência política de gênero foi encerrada ou arquivada sem punição. Esse cenário evidencia a necessidade urgente de fortalecer mecanismos de proteção e apoio às mulheres que atuam na esfera pública.

A sub-representação feminina também é evidente no Congresso Nacional, onde as mulheres ocupam apenas 15% das cadeiras na Câmara dos Deputados. Essa desigualdade limita a diversidade de perspectivas na formulação de políticas públicas e reforça a importância de promover a equidade de gênero nos espaços de poder.

Diante desse contexto, a trajetória de Maria Paula Dallari Bucci se destaca como um exemplo inspirador. Sua atuação acadêmica e profissional demonstra que é possível superar barreiras e contribuir significativamente para o desenvolvimento de políticas públicas mais justas e inclusivas. Ela representa a força e a competência das mulheres que, mesmo diante de desafios estruturais, continuam a lutar por um serviço público mais equitativo e representativo.

Reconhecer e valorizar lideranças femininas como Maria Paula é fundamental para incentivar novas gerações de mulheres a ingressarem e permanecerem na área de políticas públicas, promovendo mudanças estruturais que beneficiem toda a sociedade.

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum