Nos EUA, para onde fugiu para não ar a faixa para Lula na transição de governo, Jair Bolsonaro (PL) ignorou alertas recorrentes feitos pelo tenente-coronel Mauro Cid, que enviou diversas mensagens por WhatsApp ao chefe alertando sobre o "povão invadindo o Congresso".
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A troca de mensagens, ocorrida no dia 8 de janeiro de 2023, foi revelada pelo jornalista Aguirre Talento, que teve o a todo conteúdo do celular de Mauro Cid, no portal Uol nesta quarta-feira (21).
Às 15h49, Cid envia uma transmissão do "QGEX Brasília ao vivo" - provavelmente feita pelos golpistas - ao ex-presidente. Em seguida, o militar alerta: "povão invadindo o Congresso". o auxiliar envia outra mensagem 22 minutos depois: JP e CNN não estão transmitindo.
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Diante do silêncio de Bolsonaro, Cid segue com mensagens às 17h55 - um link da rede X - e às 18h59, quando avisa que "Lula decretou intervenção federal no DF" e que o "interventor será o Sec Exe do MJ", sobre a nomeação de Ricardo Cappelli, secretário do então ministro da Justiça Flávio Dino, para assumir o governo do Distrito Federal, comandado por Ibaneis Rocha (MDB), aliado de Bolsonaro.
Só então, às 19h04, quando a horda bolsonarista começou a ser desmobilizada, o ex-presidente escreveu a Cid: "O Ibaneiz (sic) perde".
O militar responde de pronto, afirmando que "exonerou o Anderson", sobre a exoneração de Anderson Torres, que deixou o Ministério da Justiça e foi nomeado Secretário de Segurança Pública do Distrito Federal.
Envolvido na chamada "minuta do golpe", Anderson Torres viajou aos EUA para férias logo após Ibaneis sua nomeação na SSP, que comanda toda a estrutura de segurança do DF, que falhou em 8 de Janeiro.
Quatro dias depois, Bolsonaro envia a Cid uma notícia falando justamente da minuta do golpe encontrada na casa de Torres. Cid compartilha um outro link e uma mensagem encaminhada: "escrita a mão".
A partir de então, as conversas entre os dois am a ter as investigações como tema. No dia 30, Cid envia link de reportagem da Veja sobre "a parceria entre STF e Defesa para derrubar o braço direito de Bolsonaro", sobre a apuração da PF que o envolvia.
Bolsonaro responde com áudio. "Cid, a investigação em cima de você é pra ver se pegaria alguma coisa contra mim. Não pegaram nada, e a narrativa foi pro espaço, daí o pessoal bate o pé nesta outra aí agora. Eu tô à disposição aqui, se quiser ligar pra mim será um prazer falar contigo. Abraço".
Em 3 de abril, Bolsonaro enviou um novo link com reportagem do Estadão que diz que "Mauro Cid vai relatar à PF que ordem para retirar joias da alfândega partiu diretamente de Bolsonaro". A reportagem fazia menção sobre a investigação de contrabando de joias furtadas da Presidência que foram vendidas nos EUA por assessores de Bolsonaro.
"Não teve ordem nenhuma... Eles inventam tudo... O senhor nem sabia o que tinha lá", responde Cid em três mensagens, mostrando certo desespero.
Bolsonaro responde apenas com um "selva", jargão militar usado em saudações ou para dizer que está "ok", que foi adotado pela organização criminosa de Bolsonaro.
Um mês depois, Cid seria preso na investigação sobre as fraudes no cartão de vacinas, que o levaria a firmar acordo de delação e confirmasse as investigações sobre o contrabando, além de revelar a estrutura da quadrilha golpista, que está sendo julgada pelo Supremo Tribunal Federal.